Uma das coisas que mais ouvi a medida que fui estudando mais sobre escrita e produção de roteiro é a importância de se fazer diálogos de personagens criveis, reais e fugir do artificialismo. Este talvez seja o maior desafio de quem inicia na vida de escrever ficções, apurar a forma que suas criações se expressão trazendo uma naturalidade que dialogue com quem ele é, seu local social, conhecimentos e outras características distintas. No mundo dos quadrinhos, alguém que consegue não só fazer isso quanto utilizar de falas bem características para releituras de figuras já famosas da cultura pop é o paraibano Paulo Moreira.
Quadrinista e designer, seus primeiros trabalhos eram reproduções do que via nas revistas e animações que acompanhava como “Cavaleiros do Zodíaco” e “Dragon Ball”, mas foi com postagens em redes sociais de criações próprias que o lhe deram renome na área. Tirinhas como “Ana, Mosquinha e Lagatixinha” e “Mar Menino” traziam situações bem-humoradas do cotidiano e relacionamentos misturados com nostalgia e regionalismo. Com a série em tiras “Bom dia, Socorro” explorou também o uso da linguagem dos aplicativos de mensagens de celular na batalha entre Beta e Socorro, presas em um confronto no melhor estilo anime de luta bem brasileiro.
Página da HQ "Bom dia, Socorro" |
Não é só o uso de gírias ou expressões nordestinas que se destacam, a espontaneidade que Paulo coloca nas interações dos personagens e esse encaixe em situações inusitadas falam muito sobre o seus sucesso de público. Uma tira que gosto muito e exemplifica bem isso é esta abaixo, onde o protagonista (certa representação do próprio autor) quer devolver um dinheiro emprestado e o amigo não quer receber, ato bem comum de nossa vida, que vai escalonando ao campo do absurdo.
Página da HQ Mar Menino |
Em entrevista ao portal Paraíba Criativa falando sobre sua HQ, Operação Dragão Negro, Paulo destaca que levou para sua produção além do jeito de falar, um pouco da personalidade dele e dos amigos e podemos ver essa característica bem nesta tirinha. O “Ei, pô, teu dinheiro daquele dia” sai muito normal como início de um papo entre amigos e uma ótima abertura para um roteiro. O “oxe, relaxa, precisa não” trazendo o conflito e o “doido, vou botar no seu bolso!” o escalonamento para o absurdo. Além do bom traço cartunesco e expressivo que ele faz, temos tudo passado de jeito autêntico, informal sem ser simplório ou “truncado”. Parece simples, mas é mais complicado do que se pensa.
Como disse, isso se destaca ainda mais quando são personagens de marcas/obras muito conhecidas, famosas, que tem suas personalidades, formas de expressão bem marcadas na mente do público. Naturalidade com disrupção/releitura é um movimento que gera não só o humor, acima de tudo a curiosidade.
Não conheço as métricas de visualização, curtidas, compartilhamentos de suas postagens, mas imagino que cada uma que envolva Pokemon, por exemplo, tem grande audiência por esse sorriso que causa do impacto da quebra de expectativas e construção de um cenário bem impensado para aqueles personagens.
Existem no Brasil ótimos e ótimas quadrinistas que escrevem diálogos muito bons, claro, porém, me dá uma profunda felicidade de ver um paraibano como eu fazendo isso com constância, qualidade e retorno de leitores. Fica aí a dica para estudiosos de um bom objeto de estudo!
Se quiser conferir mais do trabalho do Paulo, segue ele no Instagram: @paulomoreirap.
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