Por Liber Paz
Ao final do Século 3, o Império Romano
apresenta fortes sinais de decadência. Levantes de regiões que buscam a
independência explodem em toda parte e as tropas romanas procuram
sufocar esses rebeldes a todo custo.
Além disso, há uma disputa de poder
entre as tradicionais religiões romanas e a nova religião cristã, que
conquista cada vez mais adeptos.
Nesse cenário, o tribuno Jorge
destaca-se entre os soldados romanos. Com sua extraordinária tenacidade
em combate, lidera vitórias e é celebrado como excelente guerreiro. Seu
sucesso, entretanto, o torna alvo de intrigas políticas e o envia para
uma missão mortal: caçar um inacreditável monstro.
São Jorge Guerreiro, tema de canções,
santo padroeiro de diversas nações, protetor de incontáveis e
apaixonados devotos. Para os yorubás, se sincretiza na forma de Ogum,
orixá guerreiro, deus do ferro. Lutador incansável e invencível, mártir
da fé cristã, matador de dragões, morador da lua, Oxóssi.
Uma figura tão espetacular, plural,
intensa e rica de significados que abre várias possibilidades de
narrativa, todas instigantes.
Nas mãos de um autor habilidoso, como
Danilo Beyruth, a ideia é promissora. Ele opta por uma abordagem
histórica e mais realista. Tanto o texto quanto os detalhes dos desenhos
de armaduras, artefatos e arquitetura mostram um trabalho cuidadoso de
pesquisa.
Há preocupação de situar o leitor quanto
a fatos, datas e contextos, que são intercalados com páginas de
confrontos ferozes entre tropas que possuem a mesma tradição romana de
combate.
É dos campos de batalha, mais
precisamente na página 50, que o leitor se depara pela primeira vez com a
figura de Jorge e entende por que ele é tão celebrado como guerreiro.
Sua habilidade em combate é impressionante, mas completamente
verossímil, de acordo com a proposta realista do autor.
Mesmo abrindo mão, em um primeiro
momento, do fantástico e do simbólico, Beyruth tem possibilidades
riquíssimas para conduzir a história. Os bastidores do império, as
intrigas pelo poder e, principalmente, o embate entre as religiões
romana e cristã.
Fica evidente o desgosto do Imperador
Diocletianus diante da expansão cristã e da ameaça que ela significa à
sua própria fé. Quem tem a “verdade”? Não importa. A única certeza é de
que pessoas vão morrer por isso.
Dentro dessa perspectiva mais
comprometida com a realidade, como fica o famoso dragão de São Jorge?
Beyruth apresenta uma solução fascinante, quase tão extraordinária
quanto uma criatura mitológica. E este primeiro volume termina no melhor
momento, deixando o leitor ansioso pela continuação.
O desenho de Danilo Beyruth é muito bem
estruturado e o mesmo vale para suas composições de páginas. Entretanto,
é nítido que o formato e a produção gráfica não colaboraram para
valorizar o trabalho do autor.
Em comparação com Bando de Dois,
vê-se que páginas maiores e uma impressão que aumentasse os contrastes
do preto e do branco e intensificasse os cinzas poderia deixar as
imagens com mais peso, ressaltando-as. Sem contar o tamanho (pequeno) das letras, que dificulta a leitura.
Não se sabe dizer quais as razões que levaram a Panini
a essa escolha editorial, mas, possivelmente, foi para tornar a obra
mais acessível pelo custo e tentar ampliar o público leitor. Mesmo
assim, na opinião deste resenhista, São Jorge merecia uma publicação em formato maior, talvez em um único volume.
Ótima a iniciativa da Panini de publicar mais um autor nacional (o primeiro foi Vitor Cafaggi, com Valente)
em bancas. Mas, editorialmente, faz falta um texto sobre a influência
de Jorge em tantas culturas e religiões e a pesquisa de Beyruth. Além
disso, há alguns erros de revisão, como “impresionar” (p. 21) e
“ursupador” (p. 26). Nada que atrapalhe o prazer da leitura, mas vale
ficar mais atento.
Autor: Danilo Beyruth(roteiro e arte)
Formato16 x 21 cm, 120 páginas em preto e branco
Preço: R$ 19,90
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Comic House
Av. Nego, 255, Tambaú (João Pessoa-PB)
Telefone:(83) 3227 0656
E-mail:vendas@comichouse.com.br
Twitter: @Comic_House
(Publicado originalmente no site Universo Hq no dia 30 de maio de 2014)
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(Publicado originalmente no site Universo Hq no dia 30 de maio de 2014)
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