Por Audaci Jr
Um ex-alcoólatra abandonado pela mulher e
desempregado lutando para ficar sóbrio e ter sua tão sonhada segunda
chance. Uma história sobre corações partidos, amizades testadas,
fantasmas pessoais e cicatrizes que não se curam.
À primeira vista, vendo a sua belíssima capa hiper-realista, A vida de Jonas
parece um livro infantil, mas, quando se passa a vista pela sinopse, o
álbum se ambienta em um clima pesado e adulto, carregado de culpa,
autopiedade, egoísmo e vício.
Junto com seu irmão gêmeo Marcelo, Magno já havia utilizado sua arte em personagens antropomórficos, a exemplo do independente Bro (coletivo Bimbo Groovy) e de Oeste Vermelho (Devir), que lhe rendeu o Troféu HQ Mix de Desenhista Revelação de 2012. Desta vez, ele se inspira em fantoches do tipo Muppets, os famosos personagens criados pelo norte-americano Jim Henson (1936-1990) para séries de TV e cinema.
Se for para fazer paralelos, a obra seria como se os Muppets fossem dirigidos por nomes como Billy Wilder ou Blake Edwards, diretores de Farrapo humano (1945) e Vício maldito (1962), respectivamente, clássicos acerca da temática do alcoolismo.
A história parte da íngreme e tortuosa
fase de reabilitação social de Jonas, um ex-alcóolatra que perdeu a
mulher e tenta recuperar sua vida.
Seus amigos ficam com um pé atrás ou
simplesmente desaparecem do seu círculo, que se torna cada vez mais
unitário pela compressão da solidão e do abandono marginalizado pela sua
vida social em virtude dos pecados pregressos.
A vida de Jonas é de uma
franqueza que se torna desconcertante. Não dá para deixar de sentir pena
do protagonista, que faz suas compras e para atônito em frente da seção
de bebidas do estabelecimento ou comprime seu nariz de espuma no vidro
da viatura quando se excede em casa, na época em que ainda estava com
sua esposa.
O álbum poderia muito bem ser retratado
com “seres humanos de verdade”, mas as marionetes – não somos todos
manipulados pelas cordas dos nossos sentimentos e vícios? – oferecem uma
nova perspectiva e um quê a mais na tragédia.
O sorriso sem graça do personagem, uma
constante pelo motivo supracitado, pode perfeitamente se espelhar em
muitos momentos amargos que poderíamos passar, nos quais o mundo
continua girando sem você. Todos à sua volta podem ver seu sorriso
amarelo, mas não podem ver você gritar desespera e silenciosamente por
dentro.
A sociedade molda aquele sorriso
constante como os cirurgiões plásticos o reconstroem nos rostos das
inexpressivas madames que mascaram falsas simpatias repuxadas com o
botox. Assim, a inexpressividade dos “fantoches” se torna uma
expressividade palpável e interpretativa aos olhos mais atentos do
leitor.
Jonas arranca raiva e compaixão ao mesmo
tempo, seja pela situação em si, seja pela sua falta de amor próprio ou
pelos momentos egoístas. Um personagem falho, que tem suas recaídas e
acertos como qualquer “ser humano”.
O autor faz uma história sem esbarrar na
pieguice, apesar de utilizar alguns clichês lúgubres, como o enterro na
chuva ou a conversa frente ao túmulo. Cativa a HQ ser despretensiosa,
rica, direta e simples, qualidades enaltecidas pelo prolífero
quadrinhista André Diniz (de Morro da favela), que assina o prefácio da edição.
Por falar em chuva, a “tempestade que se
avizinha” na narrativa faz uma metáfora para um momento fundamental.
Houve também um temporal, literalmente, no relato bíblico da vida do
profeta Jonas, que acaba sendo lançado ao mar pela agitação
meteorológica, terminando no estômago de um “grande peixe”. Justamente
foi o arrependimento que salvou o israelita.
No quesito artístico, Magno tem um traço
limpo e elegante diante do clima pesado, que ganha ainda mais evidência
no sensível e vital trabalho de cor de Marcelo Costa. Distintos também
são as suas angulações, perspectivas, cortes temporais e “silêncios”.
O álbum foi feito com muito zelo e cuidado pela Zarabatana: capa com detalhes em verniz e orelhas, papel couché
brilhoso, impressão de alta qualidade, formato 20, 4 x 29,5 cm e
esboços de estudos dos personagens com os comentários de Magno nas
páginas finais.
Vale ressaltar que o projeto teve o apoio da Secretaria da Cultura de São Paulo, por intermédio do ProAC – Programa de Ação Cultural.
Um trabalho de destaque nos lançamentos
do primeiro semestre de 2014, feito por quadrinhistas que têm seu
talento herdado no DNA, que deixaram de ser uma promessa a cada novo
trabalho lançado. Altamente recomendado.
Título: A vida de Jonas
Autores: Magno Costa(roteiro e desenhos) e Marcelo Costa(cores)
64 páginas
R$ 40
Previsão de chegada: 23.05.2014
Quer adquirir a sua? Entre em contato!
Av. Nego, 255, Tambaú (João Pessoa-PB)
Telefone:(83) 3227 0656
E-mail:vendas@comichouse.com.br
Twitter: @Comic_House
(Publicado originalmente no site Universo Hq no dia 06 de junho de 2014)
0 comentários:
Postar um comentário