Por Audaci Jr
Dono de um traço extremamente estilizado e ao mesmo tempo
personalizado como uma impressão digital, o quadrinista carioca André
Diniz rabiscará suas obras neste sábado, em noite de autógrafos na
gibiteria Comic House, localizada no bairro de Tambaú, em João Pessoa.
'Obras' porque Diniz atualmente é o quadrinista mais prolífero do
país. Em pouco mais de três anos, lançou no mercado álbuns como O
Quilombo Orum Aiê, Morro da Favela, A Cachoeira de Paulo Afonso, Ato 5 e
Mwindo. A qualidade – tanto gráfica quanto textual – não decai perante a
quantidade produzida pelo roteirista e desenhista.
"Sou inquieto. Faço sempre mais de um projeto ao mesmo tempo", afirma
o autor ao JORNAL DA PARAÍBA, que revela sofrer de uma tendinite devido
ao esforço criativo. "Quando estou trabalhando em cima de uma HQ,
esboço a ideia de outra, tomo notas e continuo".
Entre seus trabalhos, um dos mais recentes é O Negrinho do Pastoreio
(Ygarapé), adaptação que conta com a colorização de sua esposa, Marcela
Mannheimer, e nasceu de forma curiosa e às avessas do convencional.
"Geralmente a gente faz as coisas que gosta, mas eu peguei a lenda
porque não gostei dela", confessa. "Aos olhos de hoje acho muito
preconceituoso, relativizando as coisas da época. Ele não tinha nome,
era submisso e sempre apanhava e apanhava".
Assim como outros de seus protagonistas em outras releituras ou
criações, o personagem principal de O Negrinho do Pastoreio despe as
vestes de 'coitado' e calça personalidade e iniciativa. "Com um
protagonista ativo, conduzir a história é mais interessante", reflete.
"É um exercício. Indo para outro caminho, a história ganha
personalidade".
'O IDIOTA' CALADO
Arte da adatação de O idiota |
Tão personalizado quanto o traço estilizado do conterrâneo Flavio Colin (1930-2002), a arte de André Diniz está começando a ganhar o mundo, invadindo o Velho Continente.
O álbum Morro da Favela foi lançado em junho deste ano na França e na
Inglaterra. A HQ relata a história da 1ª favela brasileira, nascida em
1897, no Rio de Janeiro, pela perspectiva do renomado fotógrafo (e
morador) Maurício Hora.
De acordo com o quadrinista, essa foi uma oportunidade de realizar o
sonho de conhecer a Europa e estreitar contatos com artistas e editoras.
O projeto que está tomando seu tempo atualmente é grandioso: adaptar
para os quadrinhos, sem o uso do texto, O Idiota, clássico da literatura
mundial de Dostoiévski (1821-1881). “Eu fiquei apaixonado, mas não é
uma adaptação convencional", alerta. "O livro é muito verborrágico, mas
decidi fazer o caminho oposto".
Com previsão de ter 300 páginas (das quais já fez 80), André Diniz
contorna a releitura com o desafio de ser independente, não tendo a
'muleta' da obra original, e, ao mesmo tempo, não substituir o livro.
(Matéria publicada no Jornal da Paraíba em 24/11/2012)
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