Desde Persépolis, de Marjane Satrapi, eu não me apego tão avidamente a uma graphic novel. A narrativa de Satrapi é autobiográfica, é um caso diferente de Habibi, mas nem por isso a narrativa de Thompson é menos emocionante. E, mesmo hoje em dia, poderia se encaixar na biografia de muitas mulheres do mundo árabe.
Existem diversas leituras para Habibi. Há o aspecto cultural e sociológico da mulher como objeto, da venda de pessoas como escravos, da influência da religião na vida cotidiana, da disparidade social dentre tantos outros que posso ter deixado passar na primeira leitura. Escolhi fazer a resenha partindo da arte da narrativa, porque é uma história fascinante e tem aspectos que lembram As 1001 Noites.
Como o próprio nome sugere (não vou dar a tradução literal do nome, deixo isso para a "aulinha" no capítulo final do livro), é uma história de amor entre Dodola e Zam, dois escravos refugiados no deserto. Ela foi vendida pelo pai aos 9 anos de idade para um escrivão, que a tomou como esposa. Com o marido morto, Dodola foi capturada como escrava e estava prestes a ser vendida quando escapou, levando consigo o bebê Zam, salvando-o da morte.
Dodola e Zam passam a viver num barco no deserto. Ela garante a comida dos dois, cuida do menino e ensina-o a escrever. Os dois vivem no deserto por vários anos e o destino os separa. Ela passa a fazer parte do harém de um sultão, ele termina de crescer em uma vilazinha próxima.
Durante todo esse tempo, a história parece se passar em tempos longínquos e é muito marcada pelos aspectos religiosos, que são utilizados principalmente como parábolas por Dodola ao ensinar Zam. Ela também mostra que o cristianismo e o islamismo vieram do mesmo lugar e utilizam lendas semelhantes. Em certo ponto, até mesmo faz uma árvore genealógica das duas religiões.
Há um reencontro entre Zam e Dodola e vemos, então, que toda a jornada dos dois se passa em tempos contemporâneos ao nosso e aí vemos a gritante diferença cultural existente no país. Também vemos como aquilo é distante da nossa realidade, mesmo estando a apenas algumas horas de avião de distância.
As páginas do livro são lindas. A maior parte delas são desenhadas com arabescos. Olha alguns exemplos:
Dodola é uma contadora de histórias nata, aos moldes de Sherazade. Craig Thompson também o faz com maestria, tornando a jornada de Dodola e seu irmão-filho-companheiro Zam linda, emocionante e empolgante.
A capa do livro em português é igual ao do inglês (felizmente, porque é linda). Outra felicidade é o livro fazer parte do selo Quadrinhos na Cia., da Companhia das Letras, porque eles produzem obras lindas, de excelente qualidade e a preços muito justos.
672 páginas
Formato 18 x 23 cm
Acabamento: Brochura
Editora: Companhia das Letras
R$ 57,00
Telefone: (83) 3227.0656
Email: vendas@comichouse.com.br
Twitter: @Comic_House
Av. Nego, 255, Tambaú (João Pessoa-PB)
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