Pois bem, como temos o Batman Day (Dia do Batman) em setembro, o texto deste mês do Correio vai ser especial ˆˆ
Mas antes, vamos para a parte mais importante: como vai você?
Por uma série de motivos, que vão desde trabalho a loops de perfeccionismo e ansiedade, passei um bom tempo sem conseguir escrever para o Correio, então, acredito que essa é a primeira vez que nos vemos em um bom tempo. Então, pergunto de novo: como vai? Tudo bem por aí? Sabia que senti sua falta?
Agora que estamos retornando, gostaria de primeiro pedir desculpa por essa ausência, e dizer que estarei fazendo meu melhor para conseguir retomar aquela boa e velha regularidade, e cortar de vez os laços de perfeccionismo que prendem os textos. Ou pelo menos, não deixar que eles atrasem tanto novamente.
Agora, voltando ao ponto:
Quando falamos sobre quadrinhos, tivemos um sem número de grandes artistas e roteiristas que deixaram suas marcas em fases que ficaram marcadas nas mentes de leitores. De fato, é impossível falar em nomes como Denny O’Neil, Neal Adams, Jim Aparo, Alan Grant, Grant Morrison, Norm Breyfogle, Chuck Dixon, Doug Moench, Steve Englehart, Marshall Rogers, Dick Sprang, Bill Finger, sem lembrar alguma história ou momento memorável na carreira do vigilante de Gotham.
De fato, cada leitor terá sua equipe ideal do Cruzado de Capa, da mesma forma, cada leitor terá uma história que deixará o personagem marcado em sua memória, e é sobre isso que gostaria de falar hoje, ou, mais especificamente, sobre a história aquela que é, para mim, minha história favorita do Batman.
E qual seria ela, você pergunta? Bem, é uma pequena pérola conhecida como “A Noite do Caçador”.
A história se inicia quando o Batman, pronto para se retirar após mais uma patrulha, testemunha um assalto a banco. Antes que possa agir, a situação escala quando, em meio à troca de tiros com a polícia, os assaltantes acabam por alvejar um casal de transeuntes, matando-os na frente de seu filho, e de um Cavaleiro das Trevas. A cena, claro, lança o personagem de volta ao cenário de seu maior trauma, a noite do assassinato de seus pais, e o lança numa perseguição implacável e furiosa contra os assaltantes.
E é aqui que as coisas começam a tomar um rumo bem interessante.
Porque, diferente das demais histórias do personagem, “A Noite do Caçador” é praticamente uma história de terror - e tudo isso graças às decisões tomadas pela equipe narrativa.
Ainda que seja um processo relativamente simples, essa decisão causa um efeito bem significativo, uma vez que, ao optarem por não “dar voz” ao Batman, o mesmo termina assumindo os ares de uma força da natureza, ou de um monstro, que, movido apenas pela sua missão e raiva, vai se livrando de seus adversários, um a um de modo brutal e obstinado. O próprio modo como o personagem faz isso, reforça essa natureza implacável, uma vez que, a cada captura, os demais membros do bando vão ficando cada vez mais apavorados.
Ao mesmo tempo em que despersonaliza o seu heroi, a narrativa passa essa voz aos seus “vilões”, nos permitindo conhecer suas emoções e pensamentos de modo direto, o que nos aproxima, de certa forma, desses personagens, que passam a ser o centro da narrativa. Assim, conseguimos sentir melhor não apenas a implacabilidade do Batman, como também o terror que, gradualmente, vai se espalhando por entre os assaltantes de banco à medida em que veem seus números sendo reduzidos de modo constante.
E é aqui que a história alcança seu ápice.
Deixando que o jovem seja capturado pela polícia, o Batman se retira, voltando para seu lar na Fundação Wayne (nesse período, o personagem tinha saído da tradicional Mansão e se mudado para os últimos andares do prédio da fundação que leva o nome de seus pais). Caminhando pela sala vazia, o Cruzado de Capa remove seu capuz, e é quando vemos pela primeira vez, o rosto de Bruce Wayne. Diferente das visões com que estamos acostumados, porém, não é a visão de um homem sério, sombrio ou calmo, mas antes, a de um homem quebrado, com os olhos perdidos em lágrimas, que vem a desabar em um choro profundo diante do quadro de seus pais.
“...e, de fato, Bruce Wayne já aprendeu há muito tempo a conviver com a agonia da perda de seus pais”
“mas quando ele pensa no garoto que foi deixado órfão pelo crime nas ruas ao entardecer…e no outro garoto que o crime deixou em lágrimas horas antes perante a vingança do Batman…”
“...ele se lembra de um terceiro garoto que o crime fez chorar tantos anos antes, e, na sua solitária torre iluminada pela luz cinza da alvorada, neste único momento da eternidade…”
“...ele é aquele garoto novamente.”
E é assim, com um personagem quebrado emocionalmente, que a “Noite do Caçador” encontra o seu encerramento.
E é precisamente nisso que está o que me faz gostar tanto dela.
Dentre todas as histórias do Batman, esta é aquela que, na minha opinião, melhor consegue captar aquilo que acredito ser a essência do personagem. Apesar de toda a construção do Cavaleiro das Trevas como uma força da natureza, é nos momentos finais da narrativa que a história nos apresenta quem ele realmente é: um ser humano marcado por uma dor terrível e que opta constantemente em fazer tudo o que estiver ao seu alcance para impedir outras pessoas de passarem por essa mesma dor.
Uma imagem não só imensamente triste mas, ao mesmo tempo, extremamente inspiradora, como nossos herois costumam ser.
Como nota, o CBR possui uma coluna contando um pouco mais sobre a história por trás da “Noite do Caçador”, narrada pelo próprio Sal Amendola, um dos autores da história, que você pode conferir por aqui.
E como curiosidade, existe uma história de um certo personagem canadense, escrita por um certo senhor inglês, que segue uma linha beeeem parecida com a desta história.
Mas isso, é algo que iremos discutir em uma outra ocasião ; )
Referências:
https://dc.fandom.com/wiki/Detective_Comics_Vol_1_439
https://www.cbr.com/deja-vu-on-the-night-of-the-stalker/